respirArte

A palavra projecto deriva do latim “projectu” que significa lançar, relacionando-se com o verbo latino “projectare” que se poderá traduzir por lançar para diante. A partir desta raiz latina, a palavra projecto pode ter vários sentidos: plano para a realização de um acto; desígnio; redacção provisória de uma medida qualquer; esboço. (Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 1989).
A elaboração de qualquer projecto pressupõe um processo que tem como referências um ponto de partida (situação que se pretende modificar), um ponto de chegada (uma ideia do que se pretende modificar) e a previsão do processo de “construção” (o “como” fazer).
Deste modo, o nosso primeiro passo consistiu em definir e conhecer o local, para tal, foi conveniente reunir um conjunto de informações disponibilizadas quer pelo site da Câmara Municipal de Castelo de Vide, quer através do levantamento informativo em publicações, imagens e outros meios, nomeadamente pessoas nossas conhecidas.
Assim, esta organização da informação permitiu-nos identificar e discernir o conhecimento local, que nos permitiu, de seguida, um bom exercício de “braimstorming” de ideias, após o qual se fez uma selecção.
Por conseguinte, e indo ao encontro daquilo que é o conceito de animação sociocultural, decidimos pela realização de actividades de âmbito geral.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Enquadramento teórico

«Vivemos num mundo em que o empobrecimento cresce em todas as sociedades, mesmo as mais ricas; um mundo onde triunfam as desigualdades entre os homens e as mulheres, entre os países do Norte e do Sul, onde os jovens e os mais idosos, entre as cidades e o campo, um mundo que consome o laço entre os humanos e a natureza.…
Mas vivemos também num mundo em que por todo o lado surgem iniciativas, projectos, movimentos de cidadãos e cidadãs determinados a alterar a face do planeta, conciliando abertura ao mundo e satisfação local das necessidades.»[1]


A Animação Sociocultural
- instrumento nos processos de desenvolvimento

A Animação Sociocultural enquanto metodologia de intervenção social é uma prática inalienável do desenvolvimento comunitário. Um princípio basilar dos processos de Animação e desenvolvimento com a comunidade é a participação dos colectivos.
A Animação acontece nos métodos de desenvolvimento da comunidade através de um conjunto de iniciativas, desde que, haja o envolvimento activo e comprometido dos grupos sociais nas práticas de acção comunitária.
A Animação Comunitária encontra um campo fértil de actuação no fomento do associativismo, nas actividades de voluntariado e do trabalho juvenil, nas políticas de educação cívica e de pedagogia de consciência crítica, nas iniciativas que promovam a identidade comunitária nomeadamente, a promoção do património cultural e natural, símbolo vivo da cultural local.
A Animação direccionada para os processos de desenvolvimento local deve privilegiar novas formas de olhar a realidade na perspectiva das gentes, trabalhar com elas um conjunto de competências, valores e princípios desde as suas raízes culturais, no sentido da valorização da auto-estima e da cultura, elemento central da ideia de comunidade.
Animar o desenvolvimento comunitário é educar para os valores do “local”, sensibilizar para o papel que cada indivíduo pode cumprir para o bem comum. É sedimentar espaços de construção alternativos à realidade presente, enfim, é provocar a mudança social com a comunidade. As pessoas deverão assumir o protagonismo da acção comunitária, um processo difícil de se construir na sustentabilidade da participação, mas certamente, mais activo, consciente, democrático e libertador de preconceitos culturais e estigmas sociais associados ao território local.
O associativismo é um dos vectores de intervenção no território. Ele é escola de cidadania activa, espaço de Animação Sociocultural e de desenvolvimento de percursos de educação não formal, fomentador da democracia cultural. As colectividades locais deverão ser agentes da valorização e preservação da cultura popular e contribuintes da mudança social.
A Animação Comunitária tem que suster a sua acção num projecto de educação para o desenvolvimento, está entendida como forma de educar para o sentido cívico, para a formação de cidadãos conscientes e participantes no próprio processo de desenvolvimento. A educação para o desenvolvimento está direccionada para a provocação da mudança de mentalidades, atitudes e comportamentos do indivíduo e do grupo. A Animação enquanto método educativo tem que educar para a solidariedade, para a responsabilidade colectiva, para a auto-estima e valorização da cultura do território.



O Desenvolvimento Local/Comunitário

O desenvolvimento local é um processo de transformação da realidade sustentado na capacitação das pessoas para o exercício de uma cidadania activa e transformadora da vida individual e em comunidade. É de capital importância que os grupos não sejam meros utentes de serviços, mas, actores e autores das práticas de desenvolvimento local.
Este modelo de desenvolvimento caracteriza-se por um processo de melhoria das condições culturais, económicas, educativas e sociais das populações através de iniciativas de base comunitária, de valorização dos recursos humanos e materiais em ligação privilegiada com as populações locais e as instituições do território em zonas rurais ou urbanas, no litoral ou interior.

«(…) o Desenvolvimento deve ser um processo integrado, envolvendo as dimensões económica, social, cultural, ambiental e política, privilegiando para essa integração o trabalho a nível local, em meios desfavorecidos, actuação que não se esgota na componente económica do Desenvolvimento, incluindo também com destaque a educação para a auto-estima, a cidadania activa e a valorização da cultura local.»

Ezequiel Ander-Egg[2] sustenta a tese de que o “local” é o âmbito mais adequado para desenvolver programas de desenvolvimento da comunidade.
As organizações comunitárias fortalecem-se com os processos de desenvolvimento local protagonizados pelas acções territoriais dos movimentos sociais e das organizações não governamentais, que de alguma forma são um instrumento de pressão social.
Porque não há desenvolvimento, programas e projectos de Animação Sociocultural ou acção participada sem a célula social básica de uma sociedade – a comunidade – é preciso que compreendamos o conceito social de comunidade, unidade funcional e operativa da acção comunitária.

«Una comunidad es una agrupación o conjunto de personas que habitan un espacio geográfico delimitado y dilimitable, cuyos miembros tienen conciencia de pertenencia o de identificación com algún símbolo local y que interaccionan entre sí más intensamente que en otro contexto, operando en redes de comunicación, intereses y apoyo mutuo, con el prepósito de alcanzar determinados objectivos, satisfacer necesidades, resolver problemas o desempeñar funciones sociales relevantes a nivel local.»




Nunes Viveiros, Albino Luís; (2008); O Desenvolvimento Local e a Animação Sociocultural. Uma comunhão de princípios; en http:quadernsanimacio.net; nº 8; JULIO de 2008; ISNN 1698-4044

[1] Excerto da Declaração Final dos Encontros Mundiais do Desenvolvimento Local de
Sherbrooke (Canadá) de Outubro de 1998, transcrito pela ANIMAR em Teses de Amarante.
Desenvolvimento Local – Uma oportunidade de Futuro!
[2] Ezequiel Ander-Egg, Accion municipal, desarrollo local, trabajo comunitario

Fotografias do projecto